ALEGRIA DO EVANGELHO

Ao falar sobre
alegria, um capítulo determinante da vida e um interesse comum a todos os
corações, é imprescindível compreender que o Evangelho de Jesus Cristo não é um
simples conjunto conceitual alternativo para aprendizagem, ou simples
referência quando necessário. A alegria do Evangelho é duradoura. Enche o
coração dos que, no cotidiano, vivenciam a experiência do encontro pessoal com
Jesus Cristo. Trata-se de uma alegria que não é como muitas outras, que
seduzem, mas são passageiras e não têm força para resgatar o vazio interior, o
isolamento e a tristeza. O Papa Francisco adverte que o grande risco do mundo
contemporâneo, com a oferta múltipla e opressora de consumo, é uma tristeza
individualista que brota do coração acomodado e avarento, da busca doentia de
prazeres superficiais.
Não é possível
encontrar uma alegria verdadeira e duradoura quando a vida interior se fecha
nos seus próprios interesses. Isto impede a escuta de Deus e faz morrer o
entusiasmo de se fazer o bem. Um risco que, sublinha o Papa Francisco, pode
atingir também aos que creem e praticam a fé. Um cenário que pode ser
constatado quando são encontradas pessoas descontentes, ressentidas, amargas e
incapacitadas para cultivar sonhos e projetos, necessários para conduzir a vida
na direção da sua estatura própria de dom de Deus. A alegria, necessidade
natural do coração humano, expressão de vida vivida com dignidade, vem com o
anúncio, conhecimento, experiência e testemunho do Evangelho de Jesus Cristo.
A Igreja, que tem a
missão de promover a experiência dessa alegria duradoura tem que estar em
movimento, isto é, sempre a caminho. Cada membro, tomando a iniciativa de sair
e ir ao encontro, deve renunciar às comodidades e acolher o desafio da mudança,
da renovação, numa atitude permanente de conversão. É preciso ter coragem de
mudar, de ousar novas respostas, em todos os campos da sociedade, dinâmicas e
projetos. No caminho contrário, corre-se o risco de se tornar um instrumento
inócuo no serviço e no anúncio da fonte inesgotável dessa alegria.
Por isso, diz o
Papa Francisco, a Igreja está desafiada por uma exigência de renovação
improrrogável. Para se adequar a esta necessidade, é preciso reconhecer os
muitos desafios postos pelo mundo contemporâneo. A consideração das diferentes
culturas urbanas, com um conhecimento mais aprofundado de suas dinâmicas,
interesses, linguagens e configurações, tem a propriedade de mostrar o caminho
novo que fará a renovação da Igreja. O Papa Francisco sublinha que na atual
cultura dominante, o primeiro lugar está ocupado por aquilo que é exterior,
imediato, visível, veloz, superficial e provisório. O real dá lugar à
aparência. Constata-se uma deterioração de valores culturais, com a assimilação
de tendências eticamente fracas. Esse processo de renovação e trabalhosa
tarefa de ajudar o mundo a encontrar no Evangelho a fonte perene de alegria
duradoura supõe, sem negociação, a coragem e a perseverança no dizer “não” a
uma economia da exclusão, “não” à nova idolatria do dinheiro, que dá ao mercado
a força de governar e não a de servir, gerando perversidades
inadmissíveis. “Não” a todo tipo de iniquidade que gera violência, “não” ao
egoísmo mesquinho e ao pessimismo estéril.
É hora de
compreender e testemunhar a dimensão social da fé, como força e instrumento de
uma nova “escuta” prioritária dos pobres, trabalhando para respeitar o povo, de
muitos rostos e necessidades. Convida-nos o Papa Francisco a buscar,
corajosamente, novas configurações organizacionais, institucionais e pessoais,
apoiados na certeza daquilo que, luminosamente, está na alegria do Evangelho.
Dom Walmor Oliveira
de Azevedo - Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
In: zenit.org
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