sexta-feira, 21 de março de 2014

O BOM DIA DE CADA DIA: A ALEGRIA DAS JANELAS


Por Padre Antonio Bogaz e Prof. João Hansen

Porque, quase sem perceber, escolhemos um trajeto na ida ao trabalho, na volta pelo quarteirão, na caminhada matinal? Cabe a mesma pergunta: porque escolhemos uma calçada e evitamos a outra? Em nosso inconsciente, temos a resposta: escolhemos a calçada, onde alguém alegre nos cumprimenta sorrindo, onde as flores anunciam os bons sentimentos dos moradores.

Todo dia, ou pelo menos quase todos os dias, nossa rotina é praticamente a mesma. Vamos trabalhar, pegamos o carro, percorremos as mesmas ruas e avenidas. As pessoas parecem ser as mesmas, também. Mas quando estamos andando a pé, podemos notar a diferença em cada um. No nosso itinerário encontramos algumas pessoas que tornam o dia melhor e outras que fazemos o possível para que não o torne ruim. Nosso rosto é nosso cartão de visita e nossas palavras são o nosso curriculum vitae.

Logo ao sair de casa, ali está Dona Terezinha, com seu jeitinho especial, que não deixa nunca de dar um bom dia com seu sorriso tão materno que cativa qualquer um. Ela é avó e trata todos como filhos ou netos. Um prazer dizer bom dia para ela e receber o seu cumprimento que é como uma benção de uma mãe ou avó muito querida. Dá gosto passar na frente da casa do Bruno e da Haidé Baunger. Ficamos pensando: será que estarão por perto do portão para nos cumprimentar? Passar na frente da casa da Dona Estela, cumprimentar a Bela, a cabelereira. Isso muda o dia, inicia a manhã com alegria. E continuando nossa andança está o “seu” Zé, que após cumprimentá-lo, ele responde:

- Estou como Deus manda. O senhor sabe, velhinhos não saram, velhinhos melhoram.

E começa uma enxurrada de reclamações de dores na perna, no pé, no ombro, na barriga. E a gente trata logo de desejar melhoras e segue o nosso caminho.

Em seguida, todo dia é o mesmo, um susto... O cachorro do vizinho e não o vizinho cachorro, resolve que não quer ninguém andando na calçada dele. Avança nas grades, late bravamente, lembrando os desenhos animados que os transeuntes levam sustos e vão parar em cima de árvores, paralisam de medo, etc.

Mas é sempre assim. E o vizinho? Nem está aí para educar seu monstruoso cachorro, que faz isso com pessoas de idade, crianças e nós, os mais ou menos da estação da vida, que pode nos deixar com vontade de brigar com o vizinho. Mas, simplesmente desejamos:

- Um bom dia!

Mas em vez de brigar, cumprimentamos o dono do cão furioso e deixamos passar a nossa fúria pelo susto tomado.

Passando em frente de outra casa, lá está, todo dia, o casal lavando o carro. Acho que ainda vão ser multados por isso. E lavam, lavam todo dia o carro, que deve ser o mais limpo de Rio Claro. Lavam na porta da garagem e em seguida o colocam novamente lá. Às vezes nos indagamos se usam o carro ou o tem somente para lavar e guardar. Sabe-se lá, nunca o vimos dirigindo o carro a não ser colocar na porta, lavar e colocar novamente na garagem.

Na outra casa ali está o nosso gato favorito. Ele nos reconhece, fica na janela e sabe quem somos. Deixa-nos acariciar a cabeça dele, faz ron ron para nós, e se tivéssemos tempo, certamente o levaríamos passear. É um siamês muito simpático, que a única coisa que gosta é de carinho. Diz um miau como se despedindo até o dia seguinte.

Também encontramos logo na esquina, um casal que deve vender algumas coisas na cidade, colocando caixas dentro do carro e brigando o tempo inteiro.

- Vamos logo, anda com isso, mulher!

- Vê se não esquece a caixa de relógios, ontem você esqueceu.

- Isso foi ontem...e... - cumprimentamos, eles retribuem com um sorriso, como se fossem o casal mais feliz do mundo e nós continuamos nossa jornada.

Bem, é claro que todos nós passamos por isso, alguns são anônimos, não os conhecemos, outros, acabam virando quase amigos e alguns são vizinhos do dia a dia. O que aprendemos com isso? Com esta viagem diária entre as pessoas que vivem na mesma cidade?

Cada um é cada um, temos que respeitar sua maneira de ser e conviver com todos. Isso faz com que sejamos uma comunidade. Quem garante que nós não vamos precisar deles e eles de nós? A vida é assim, com pessoas encantadoras e outras nem tanto. Não podemos modificar ninguém e também não queremos ser modificados. O que precisamos na vida é ser cortês com cada um, um bom dia não custa nada, vamos cumprimentar mais as pessoas, mesmo que elas tenham um cão feroz... é tão simples desejar um bom dia... assim o dia fica mais belo e um sorriso a mais pode significar muita coisa.

Você pode imaginar quão triste é o velório. Pois bem, chega a ser prazeroso passar por lá, somente para receber os cumprimentos do pessoal de atendimento e das funerárias. Contamos isso, exatamente para mostrar a contradição. É bom ser bem acolhido, com um discurso de “bem vindo” que se esconde num sorriso amável.

Um bom dia para você...

Fonte: http://www.orionitas.com.br/cronicas---o-bom-dia-de-cada-dia.php

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